Raízes Aéreas
domingo, 19 de dezembro de 2010
sábado, 23 de outubro de 2010
domingo, 17 de outubro de 2010
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Uma redondilha menor do poeta Claudio Sousa Pereira, de teor metafísico. Tema que o poeta vai desenvolvendo cada vez com mais sutileza e personalidade.
SENTIDA MÚSICA
Intuída na mente
Escapa ligeira
Tão pouco se sente
Música faceira,
Momento epifânico,
Um susto, de leve,
É menos que pânico
Melodia breve
Faz contemplativa
De sabor empírico,
Figura cativa
Ao guiar o espírito.
Flui no pensamento
Envolvente ao fundo
Que, tão puro e isento
Movimenta o mundo
És força animada
Instintiva vida
Sutil forma alçada
Apenas sentida
Mas pouco se explica,
Na epiderme toca
Nos sentidos fica
Que sugere e evoca
Ó canção extrema,
Que contemplo o mínimo
De todo sistema
Só conheço o ínfimo.
Quanto mais conheço
Tal fator divino
Mais eu desconheço
Sobre meu destino.
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Abaixo um soneto do meu querido amigo Claudio Sousa Pereira. É interessante perceber o quanto Claudio domina a forma, sua música e clareza. Poeta que não se constrange ao fazer uso de rimas ricas. Veja o exemplo de "tempos idos" com "esqueci dos". Suas metáforas vão perdendo a ingenuidade e ganhando em densidade e agudeza. Explico: a relevância da observação poética traduzida em nomeação precisa. A numeração exemplar dos três primeiros versos, a reflexão no início da segunda estrofe e a metáfora notável em sua simplicidade no verso "A vida, grande colcha de retalhos". Nos dois tercetos, apesar da nota melancólica daquela "vida, colcha de retalhos" não resulta em pessimismo, mas o sujeito poético é "sobrevivente de" si "mesmo". Olho nesse rapaz!
RETALHOS
Uma árvore frondosa, além notória,
Um avô, uma casa, um sonho, um cão,
Um céu azul a constituir a história
E sempre altissonante em emoção;
Mesmo que seja nos momentos falhos
Em tudo estabelece um sentimento
Que costuramos a todo o momento
A vida, grande colcha de retalhos.
Retalhos que se vão dos tempos idos
Perdendo um por um. E inda me esqueci dos
Tantos, que desfizeram-se tais a esmo...
Árvore morta. Jazem sonhos mortos.
O que me sobra são resquícios tortos
De ser sobrevivente de mim mesmo.
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Retirei os poemas abaixo do livro Líricas portuguesas I, com seleção, prefácios e apresentação do incansável, magistral e notável poeta, crítico de história, literatura e cultura geral, tradutor, romancista, contista, dramaturgo Jorge de Sena. Sim, ele era tudo isso e um pouco mais. Por que Sophia? Pela serenidade limpa da grande maioria dos seus poemas, pelo tônus ético, pela firmeza vocabular e pela exatidão simples de utilizá-lo como um encaixe perfeito na frase. Segundo Jorge de Sena, "[...] segurança fluente e escultural, os seus poemas transfiguram uma realidade muito concreta, em que o amor da vida e da exigência moral encontra símbolos marinhos e aéreos, usados com uma força inspirada excepcional [...]".
[OUVE]
Ouve:
Como tudo é tranquilo e dorme liso.
Claras as paredes, o chão brilha,
E pintado no vidro da janela,
O céu, um campo verde, duas árvores.
Fecha os olhos e dorme no mais fundo
De tudo quanto nunca floresceu.
Não toques nada, não olhes, não te lembres.
Qualquer passo
Faz estalar as mobílias aquecidas
Por tantos dias de sol inúteis e compridos.
Não se lembres, nem esperes,
Não estás no interior dum fruto:
Aqui o tempo e o sol nada amadurecem.
(Coral, in Antologia)
LIBERDADE
Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.
(Mar Novo)
EXÍLIO
Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades
(Livro Sexto)
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)
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