quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

31 –
Nu


A ordem gritada e a
possibilidade cumprida:


– Sem roupa!
– Sem pele!
– Desossa!


A ordem esganiçada pela
impossibilidade de cumpri-la:


– Sem alma!

terça-feira, 24 de novembro de 2009


Não é uma rosa.
Foto via celular.

domingo, 22 de novembro de 2009


Azul entre nuvens.
Foto via celular.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O poema abaixo é de Dom Filipe, que já apresentei aqui, e volto a repetir:
Um amigo apresentou-me em 1998, o monge-poeta Dom Filipe da Cruz, ou José Afonso Madeiro da Cruz, que nasceu em Santo Amaro da Purificação, em 1950. Monge interno do Mosteiro de São Bento aqui em Salvador. Possui o livro inédito Habitação de nuvens. Alguns poemas manuscritos circulam entre alguns católicos ou interessados no tipo de lírica de Dom Filipe. Agradeço ao autor por ter liberado a publicação dos seus poemas neste blog.


GALERIA


Pelos corredores
dessa galeria
cada loja é uma
misteriosa via.
O Consumidor, pois
que com tudo priva,
é a primeira porta,
e é a mais ativa.
– O que foi? – Já passou...
Vivo foi o piso,
sua cor, seu brilho,
o passo que pisou
pelo seu ladrilho.

A segunda porta
é tudo o que existe:
coisa viva ou morta,
vista ou que não viste.
Estão frente a frente e
disputam fregueses,
repartidamente
como irmãos siameses.

Na terceira porta,
loja dividida:
dum lado canta Jó,
e do outro a suicida


canção de Caim é
compassadamente
cantada, tão afim,
que Jó amargamente


nega a sua estada,
mas não esmola treva,
o que era de esperar
quando o mal se eleva.


Na derradeira porta
o Milagre e o Mistério,
aquele a luz que exorta,
este o pesar mais sério.


Unos inconfundíveis
e inconciliáveis,
visíveis, invisíveis,
contudo navegáveis.

Pelos corredores
dessa galeria
tudo o que existiu
e o que não existia.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Pelas mãos de Silvana Guimarães e José Aloise Bahia, saiu uma belíssima página com poemas meus no
http://www.germinaliteratura.com.br/2009/lucia_delorme.htm

sábado, 24 de outubro de 2009

24 –
Pancetti

Tento mas o mar não cede:


fímbria de espuma
onda chiando na areia
distância equórea

O mirante ri
do tentame,
que quando muito
resvala no limite
translúcido


Tento mas o mar não cede:


debuxo em safira
desfronteirado entre
céu e água


Lição: o sal sulcando o rochedo,
derrota convertida em memória

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

21 –

A Criação é um peso
no trabalho divino,
nem Deus é livre
em seu ofício
Serão os pássaros
sobre as acácias
no espaço do pátio?

Duvido

terça-feira, 22 de setembro de 2009

O poema abaixo é do poeta, tradutor Carlos Machado, que mantém o excelente boletim de poesia http://www.algumapoesia.com.br/e saiu na antologia Os dias do amor, publicada no final de 2008 em Portugal. Observe os belos oximoros, o mesmo amor "comercial" é também "orquestra de guizos". As sutis ironias a favor e contra o amor. Impossível não fazer uma relação, claro, com as devidas restrições de ordem socio-histórica, com os mestres Drummond & Camões. Carlos Machado é autor de Pássaro de vidro, São Paulo: Ed. Hedra, 2006. Livro de poesia de um poeta experiente e, se não me engano, uma das estreias mais tardias da poesia brasileira, com 55 anos.    


CURTO-CIRCUITO


o amor não engendra prêmios
nem tece ventos de pêssego
na carne exausta dos dias


o amor são outras romarias
peregrinações para
dentro de uma gigantesca
orquestra de guizos


algaravias
eletricidade estática na pele
confronto de signos


o amor são objetos de bolso
chaveiro cartão de crédito
aspirina —


e a carteira de identidade
para não esquecer
o próprio nome
depois da orquestra de guizos


o amor
confunde deus e o diabo
        no curto-circuito da pele


o amor
inventa todos os fogos
       desanda todos os pêndulos
 
 
Carlos Machado

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

16 –

Interessa-me Absurda
tudo o que tocas:
cristal ou saliva
e a natureza gasosa
do que inominável
te aproximas
em tuas
alucinadas formas

terça-feira, 1 de setembro de 2009

8 –


Fluxo não é jorro

exemplo:
Heráclito

Sentir não se piegas

vê:
acácias

Suave pode ser aresta

exemplo:
vértebras

domingo, 30 de agosto de 2009

7 –
Aula

Aprende:

o gesto gratuito
sem esperança de níquel
do menino-semáforo

Ensina:

a luz também lacera
o silêncio pode corromper

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

4 –


Desimporta
que o grão do instante
vivo intenso
depois pó
se perca e
menos que nada
se anule
existir também é isso

como se não tivesse sido

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

2 –

Vertical
é a árvore
não seu intento


Vertical
é o prédio
não seu rumo


Vertical
é o humano
não seu voo

sábado, 22 de agosto de 2009

1 –


O que existe
fala

não há silêncio possível
para o que nasce

fossa abissal
cosmo delirante
em forma manifesta

Se hieróglifo e não podes
traduzi-la,
se a presença prescinde que saiba,
calma

O que existe fala
mesmo inominável

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