terça-feira, 14 de setembro de 2010

Abaixo um soneto do meu querido amigo Claudio Sousa Pereira. É interessante perceber o quanto Claudio domina a forma, sua música e clareza. Poeta que não se constrange ao fazer uso de rimas ricas. Veja o exemplo de "tempos idos" com "esqueci dos". Suas metáforas vão perdendo a ingenuidade e ganhando em densidade e agudeza. Explico: a relevância da observação poética traduzida em nomeação precisa. A numeração exemplar dos três primeiros versos, a reflexão no início da segunda estrofe e a metáfora notável em sua simplicidade no verso "A vida, grande colcha de retalhos". Nos dois tercetos, apesar da nota melancólica daquela "vida, colcha de retalhos" não resulta em pessimismo, mas o sujeito poético é "sobrevivente de" si "mesmo". Olho nesse rapaz! 

RETALHOS
               
Uma árvore frondosa, além notória,
Um avô, uma casa, um sonho, um cão,
Um céu azul a constituir a história
E sempre altissonante em emoção;

Mesmo que seja nos momentos falhos
Em tudo estabelece um sentimento
Que costuramos a todo o momento
A vida, grande colcha de retalhos.

Retalhos que se vão dos tempos idos
Perdendo um por um. E inda me esqueci dos
Tantos, que desfizeram-se tais a esmo...

Árvore morta. Jazem sonhos mortos.
O que me sobra são resquícios tortos
De ser sobrevivente de mim mesmo.


2 comentários:

  1. Sobreviver a si mesmo implica que houve um corte e uma vida após tal corte - talvez seja renascimento...
    O soneto é muito bom.

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  2. É claro que as rimas ricas não lhes são privativas ou algo novo. Não são. Eu vejo uma terceira leitura, além de Lúcia e Gerana (são leituras ótimas), vejo a solitude do poeta no fim, de melancolia e pessimismo. Pois é, mais do que alterar situações, a poesia altera os indivíduos. Beijos Lúcia.

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