O poema abaixo é de Dom Filipe, que já apresentei aqui, e volto a repetir: Um amigo apresentou-me em 1998, o monge-poeta Dom Filipe da Cruz, ou José Afonso Madeiro da Cruz, que nasceu em Santo Amaro da Purificação, em 1950. Monge interno do Mosteiro de São Bento aqui em Salvador. Possui o livro inédito Habitação de nuvens. Alguns poemas manuscritos circulam entre alguns católicos ou interessados no tipo de lírica de Dom Filipe. Agradeço ao autor por ter liberado a publicação dos seus poemas neste blog.
GALERIA
Pelos corredores dessa galeria cada loja é uma misteriosa via. O Consumidor, pois que com tudo priva, é a primeira porta, e é a mais ativa. – O que foi? – Já passou... Vivo foi o piso, sua cor, seu brilho, o passo que pisou pelo seu ladrilho.
A segunda porta é tudo o que existe: coisa viva ou morta, vista ou que não viste. Estão frente a frente e disputam fregueses, repartidamente como irmãos siameses.
Na terceira porta, loja dividida: dum lado canta Jó, e do outro a suicida
canção de Caim é compassadamente cantada, tão afim, que Jó amargamente
nega a sua estada, mas não esmola treva, o que era de esperar quando o mal se eleva.
Na derradeira porta o Milagre e o Mistério, aquele a luz que exorta, este o pesar mais sério.
Unos inconfundíveis e inconciliáveis, visíveis, invisíveis, contudo navegáveis.
Pelos corredores dessa galeria tudo o que existiu e o que não existia.